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domingo, 25 de novembro de 2012

Felicidade



Felicidade


(autor: paulinfantem)


Por que o ser humano sempre deseja mais do que pode conseguir? Não seria mais simples se reconhecessemos as nossas próprias limitações? A felicidade como o ser humano imagina não existe, o que há são momentos felizes. No balanço da vida diz-se que se foi feliz quando predominaram os momentos felizes. O verdadeiro segredo da felicidade é o contentamento. Quem não aprende a se satisfazer com o que tem jamais será feliz. 

Devolva-me Para Mim


Devolva-me Para Mim

(autor: paulinfantem)

Deixei-me ser pacato,
Sem nome nem retrato;
Não posso viver assim:
Acordei molambo de mim.
Já chega de me calar,
De ser mendigo-do-lar;
Sempre quis minha fatia,
Ainda que pouco valia.
Um querer desistindo...
Tudo me foi fugindo.
Não quero voltar atrás,
Atrás não se volta mais;
Mas agora estou afim
Disto que sobrou de mim.
Vou descer do cabide,
Ser gente que decide,
Que quer felicidade,
Que tem dignidade,
Que só quer ser aceito,
Que merece respeito.
Não quero mais agressão
Nem por palavras ou ação...
Não receber apreço
É tudo que mereço?!...
Mas de hoje pra frente
Quero ser diferente,
Eu vou querer também
As coisas que me convêm.
Eu só quero meu quinhão,
Quero comprar o meu pão,
Comer com mortadela
E achar a vida bela!
Vou retomar o rumo,
Colocar-me no prumo.
Porquê pagar pedágio
Pra viver num naufrágio?
Cada palavra, gesto...
Pra você eu não presto.
Tudo que sobrou disto
Eu entrego pra Cristo.
Se não estiver afim,
Devolva-me para mim;
Aceito devolução
Mas não briga sem razão!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Veia Poética


Veia Poética

(autor: paulinfantem)

Alguém entra no banheiro
Com o intestino preso
E o coração aceso.
O poeta é assim:
Está sempre afim!...
E com lápis e papel
Povoa todo o céu...
Porém não ganha dinheiro,
Vive quase sempre teso,
Mas, o coração aceso.
Vivendo assim ao léu
Pode ir pro beleléu.
Sentado no vaso,
Fazendo da vida
Grande pouco caso,
Pessoa vivida,
Com muito respeito,
Diz coisas sem jeito...
E se acha poeta
Na sala secreta;
E não se receia
De ter outra veia:
veia poética...
Assim ascética,
Com o intestino preso
E o coração aceso,
Diz coisas de amor
Quem foi fazer "cocô"...
Posso ser arcaico,
Mas acho prosaico
Um alguém versejar
Quando foi defecar.

Última Sorte - Virei Passado

Última Sorte - Virei Passado

(autor: paulinfantem)

Eu morri amanhã,
Talvez de manhã.
(Oh! Não me contem
Que isto foi ontem...)
Não sou notório,
Mas no velório
Eu não ter ninguém
Isto não convém.
Nos desencantos
Visitei tantos
Pobres defuntos;
Ficamos juntos,
Eu e a família...
Saudade ardia.
Ninguém agravo,
Se cherei cravo,
Rosa amarela...
Se vi arder vela
Junto do incréu
Que não ia pro céu....
Se perto dela
Pensava nela,
Nela, na morte -
Última Sorte.

Se levei caixão,
Fiz calo na mão;
Se com emoção
Chorei de montão...
Desfiz beleza,
Curti tristeza...
Mas tudo foi em vão:
Fui na solidão.
Neste hospital,
Onde passei mal,
Morri sozinho,
Nenhum carinho...
Abandonado,
Só, deste lado,
Triste, terreno...
Mas, do outro, ameno,
Anjos divinos
Em trajes finos,
Vêm me conduzir
Ao melhor porvir:
Dourada mansão -
Prêmio do cristão.
Combate lutei,
Minha fé guardei,
Carreira venci.
Eles estão aqui,
Anjos do Senhor,
Meu Consolador,
Me dão conforto
Enquanto morto.
Logo me despeço
De qualquer verso.
Nesta capela
Botaram vela,
Fizeram prece
Que não carece
P'ra quem tem Jesus -
Nossa maior Luz.
Velas queimadas,
Preces rezadas...
Tétrico lugar,
Onde fui parar...
Querem me salvar,
Eu que salvo sou -
Jesus me salvou!
Dentro do caixão,
Vou de rabecão
Pro necrotério
Do cemitério.
Chegam parentes
Com outras gentes.
Flores compradas,
Roupas trocadas...
Abriram o caixão
Com grande emoção:
Choram outra vez:
"Nós éramos seis!..."
"Volta paizinho,
Mais um pouquinho!"
Diante da morte
Há quem conforte?...
Só ressurreição
Nesta comoção.
Meu Jesus Cristo,
Se diante disto,
Se compadecia
De quem sofria
Em ver sem vida
Gente querida:
Os consolava -
Ressuscitava.
(A quem confiante
E suplicante
Pede com fervor,
Atende o Senhor.)
Enterram no chão
O meu coração...
Triste momento:
Sepultamento
Já foi concluído -
Sou um ex-marido.
Fui bom esposo?
Um pai amoroso?
Bom? Dedicado?
Dei meu recado?
Quem vai me dizer?
Eu posso saber?...
...................................
Após despedida,
A derradeira,
Voltam à vida,
Ainda sofrida.
Vida prossegue,
Não há quem negue.
Mulher já pensa
(E como pensa!)
No "meu" dinheiro...
Cabeleireiro,
Roupas, beleza...
Oh! Que tristeza!
Eu que fui pobre -
Nem deixei cobre;
Só deixei pensão -
Direito da união.
.................................
Tempos passados,
Todos casados,
Nem sou lembrado:
Virei Passado!


Violência Urbana


Violência Urbana

(autor: paulinfantem)

A violência que ocorre atualmente nos grandes centros urbanos é conseqüente ao êxodo rural e a explosão demográfica.
A incompetência das autoridades omitindo-se no planejamento adequado deixaram as metrópoles despreparadas para receber este afluxo constante e crescente na camada populacional.
A cada dia novo contingente de mão-de-obra, em sua maioria desqualificada, tenta entrar no mercado de trabalho mas encontra-o saturado.
Os apelos publicitários veiculados pela mídia atingem também aos menos contemplados pelo poder aquisitivo e aos ociosos, sem nenhuma renda, criando neles o desejo de posse e a conseqüente insatisfação.
Diante da impossibilidade da satisfação das suas necessidades reais e pseudo-necessidades, o indivíduo,imaturo e despreparado para a vida, sozinho, ou formando grupos, parte para a violência. Muitos na ânsia de melhoria rápida se emaranham no mundo das drogas, dos assaltos... E assim a criminalidade só tende a crescer.
Outra causa da violência é a paternidade irresponsável, colocando filhos no mundo sem condições de tê-los, criá-los e educá-los.
A insatisfação interior diante da má distribuição de renda torna os indivíduos frustrados e revoltados, conduzindo muitos ao crime, penalizando a sociedade que poderia ter feito muitas coisas ao longo dos anos para evitar a agonia que todos estão sofrendo no dia a dia.
Precisamos urgentemente de melhor distribuição de renda, escola de verdade, que ensine para valer, ensino profissionalizante gratuito, principalmente nas áreas carentes, melhor policionamento, etc.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Decisão


Decisão

(autor: paulinfantem)

Há momentos em que a melhor decisão é não decidir.
Não decidir já é uma grande decisão.
Tenho que ser decisivo, afinal pertenço a uma geração que decide.
Esta é a minha decisão:
-Está decidido, decididamente eu decido não decidir!

Volta...


Volta ...


"A mais simples forma de vida é tão complexa que jamais poderia ser obra do acaso." (paulinfantem)

Lendo a Bíblia resolvi dar uma olhada no livro de Gênesis. O melhor seria começar do princípio. Dito e feito (como diria o saudoso Fernando Sabino): "No princípio..." Se o homem puder aceitar e acreditar neste "princípio", aceitar e crer no restante da Palavra de Deus será fácil.
"Disse Deus..." Deus ia falando e as coisas iam acontecendo. Dava uma paradinha, olhava e via que estava tudo bem, conforme Ele havia preconcebido. Vi escrito num tapume de obra: "nada + Deus = tudo", tudo -Deus=nada". Do nada Deus fez tudo. Bastava Ele falar: "Haja Luz!" "Houve luz e viu Deus que a luz era boa." E assim foi com as demais coisas, bastava falar para trazê-las à existência.
Mas quando chegou a vez do homem, Deus parou . Simplesmente poderia ter dito: "Haja homem!" "Haja mulher!" Porém, não disse, se deteve: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança." Pois é, toda a Trindade Santa se reuniu para fazer o homem (e a mulher), obra-prima da Criação. Foram mais longe: fizeram-no com as próprias mãos, sopraram em suas narinas, deram-lhe assim, pessoalmente, o fôlego da vida. Extremamente carinhosos na criação do homem. Por que esta diferença, esta distinção para com o homem? Ele queria (e quer) "adoradores que o adorem em espírito e verdade", isto é, pessoas que o amem e o cultuem com satisfação, com sinceridade que deve partir do próprio interior, do âmago de si mesmo, do mais recôndito do ser...
Como o bom pastor que larga as noventa e nove ovelhinhas no aprisco para buscar a única desgarrada, Deus também está sempre buscando o homem, batendo às portas dos corações, insistindo: "Filho meu, dá-me o teu coração!" "Deixa-me entrar." Deus é um cavalheiro muitíssimo educado, Ele só entra na sua vida se você realmente quiser. Também sai com a máxima discrição quando nota que você não está mais afim.
O homem precisa se conscientizar de sua posição no Universo e voltar-se para Deus. Você precisa de Deus! Está faltando Jesus na sua vida! Volta. Volta hoje. Volta agora. "Fala com o seu Pai que lhe vê em secreto e Ele lhe recompensará." Volta, Deus está esperando você.

O Infinito Dentro do Finito


O Infinito Dentro do Finito

(autor: paulinfantem)

Uma vez ouvi o Joelmir Betting, famoso comentarista de economia, dizer que o homem pode contar quantas sementes há numa maçã mas não pode contar quantas macãs há numa semente... Isto me fez pensar...
Colocar o infinito dentro do finito somente Deus fez. Quando ele criou os seres vivos, animais ou vegetais, tornou inerente a cada espécie gerar seres com as mesmas características genéticas; cada semente, que é uma grandeza finita, possui dentro de si a possibilidade de gerar um número infinito de descendentes. O que para o ser humano sensato será sempre prova irrefutável da existência deste Deus maravilhosamente Criador.

sábado, 17 de novembro de 2012

O Homem Morreu


O Homem Morreu

(autor: paulinfantem)

Zeca dos Porcos morava com o avô quase no final da rua das Palmeiras, onde criavam muitos porcos alimentados por lavagem doadas pelos comerciantes locais. Ficara órfão ainda bem pequeno, quando perdera tragicamente os pais eletrocutados por raio enquanto faziam uma cerca. Desde então estava com o "seu" Nenzinho, o avô materno. Ultimamente também com um gato persa que ganhara de presente de um político local.
Zeca dos Porcos era um garoto muito alegre, sempre assoviando ou cantarolando alguma música.
Quando deste dia fatídico já contava os seus doze anos, bom aluno da 6ª série, tendo como obrigação matinal alimentar a porcilga de seu avô.
No cumprimento de suas tarefas saía todas as manhãs numa velha carroça, puxada por um burro apelidado "Feioso". Levava alguns latões, desses de cooperativa leiteira, onde despejava os restos alimentares doados pelo comércio. O recolhimento começava sempre por uma padaria lá no Cachoeiro.
Naquela manhã o Zeca dos Porcos saíra da padaria em prantos, inconsolável. Às pessoas que passavam e lhe perguntassem o que sucedia, a resposta era apenas: "-O Homem morreu."
Como o menino chorava profusamente e nada mais conseguia dizer, concluíram, apressadamente, tratar-se da morte do dono da padaria, que naquele momento encontrava-se ausente.
Boato corre ligeiro e em lugar pequeno tem a velocidade do relâmpago - de uma extremidade a outra em segundos...
Assim como aconteceu na primeira padaria, foi também nas outras, nos açougues, nas vendas, nos bares, etc; a quem observava o seu choro transbordante e lhe indagasse o motivo de tamanha tristeza, a resposta era sempre a mesma: "-O Homem morreu." E se debulhava em mais e mais lágrimas... E as conclusões equivocadas foram vertiginosamente se espalhando por todas as casas daquele lugar.
Mas, acontece que aquela era uma manhã singular: todo o povo estava envolvido com a emancipação de Cardoso Moreira e saíram, em grande parte, ainda bem cedo, numa caravana de alguns ônibus superlotados acompanhados de uma carreata, rumo a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro.
E de dedução em dedução chegaram a uma terrível conclusão, certamente tratar-se-ia de uma gigantesca tragédia, talvez uma batida em série, poderia ter ocorrido incêndios, queda em precipícios ...
(Devo informar, a bem do seu entendimento, que naquele tempo ainda não havia ocorrido o "boom" dos celulares, estando portanto fora de cogitação quaisquer tentativas de comunicação com quem quer que estivesse naquela caravana.)
Alguns mais afoitos e com mais recursos partiram em seus carros ou de caronas para virem "in loco" o tão comentado e hipotético acidente.
Um político local, da "turma-do-óleo-de-peroba", isto é, "cara-de-pau" mesmo, aproveitou-se daquela situação para marcar os seus pontinhos junto a população. Botou na rua a sua velha Brasília amarela, igual a dos saudosos Mamonas Assassinas, equipada com possantes alto-falantes; começou então o seu enfadonho discurso:
"- É muito tristonho que pego neste microfone para através destes alto-falantes da amizade falar tristemente da triste tristeza da trágica tragédia que tragicamente se abateu sobre nós, deixando muito abatido com tanto abatimento o nosso povo sofrido, cansado de ser sofredor, sofrendo mais este sofrimento, que se entranhou nas suas entranhas, esta dor dolorida que dói doendo, mas eu não sou desses de abandonar no abandono este povo abandonado, portanto providenciei uma providência providencial providenciando um requisição requisitando fosse requisitado juntamente ao "Seletísssimo" Senhor Doutor Prefeito da Prefeitura de Campos dos Goitacazes, a doação de um donativo doado de um adiantado adiantamento de caixões para o caso dos quatro de nossa funerária não serem suficientes para tantos enterros de nossos saudosos defuntos, queridos mortos, cujos restos cadavéricos merecem..."
Quando então é interrompido pelo "seu" Nenzinho:
"-O Homem morreu."
Ao que respondeu de pronto, ainda com o microfone ligado:
"-Homem?!... Que homem? Outro?"
E então veio a surpreendente resposta:
"-Homem, aquele gato persa que o senhor deu ao meu neto."
Neste momento a caravana, a carreata e os demais, que foram depois, adentraram no lugar festejando com grande queima de fogos a Emancipação de Cardoso Moreira. Assim a tristeza foi enterrada enquanto a nova cidade morria de alegria.

Julgando Alguém


Julgando Alguém

(autor) paulinfantem

Quando você achar que pode julgar alguém, fique exatamente no meio entre os desafetos. Um bom juiz deve ser uma pessoa capaz de se situar entre duas pessoas, sem sair do meio, ainda que só um pouco, pois se assim o fizer, deixará de ser juiz para ser defensor de um e acusador do outro; um bom juiz tem que ser imparcial, ficar na mesma distância entre ambos; somente na imparcialidade encontrará o julgamento adequado e a sentença justa.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Memórias de Um Recenseador


Memórias de Um Recenseador

(autor: paulinfantem)

Trabalhando para o IBGE fui escalado para a Vila Coité, na periferia de Nova Chicago. Minha primeira visita caiu num casebre paupérrimo, coberto de sapé. Na frente da tosca habitação abundavam espadas-de-são-jorge e pés de guiné; aqui e acolá, alguns pés de arruda e comigo-ninguém-pode. Galinhas cacarejavam soltas pelo quintal. Um gato dormitava na janela da frente. Subia fumaça da chaminé e um forte cheiro de alho frito misturado com café recém coado chegava até a rua.
Bati palmas. Não tardou e fui atendido: primeiramente por um esquálido vira-lata latindo de maneira estridente, seguido de uma velhota portando uma horrível corcunda, dois dentes na frente da gengiva superior, uma cabeça toda branca e, na alegria do seu sorriso de boas-vindas, pude contemplar a tamanha tristeza de todas as suas rugas. A primeira coisa que me veio a mente foi a lembrança das bruxas das historietas de minha infância.
Expliquei-lhe o porquê de estar ali naquela hora. Amavelmente convidou -me que entrasse. Entrei. Sentei num caixote velho que serviu-me de banco. Acomodei-me colocando a prancheta sobre as coxas e comecei a preencher meus papéis... Quando ela pediu-me que esperasse um pouco, daria um pulo na cozinha para buscar um café que acabara de passar. Imediatamente afeiçoei-me a ela e pareceu-me que a simpatia foi recíproca. A velhinha era mesma tão boazinha! Como eu estava enganado nas minha primeiras impressões e como as as aparências às vezes no enganam tanto! É, gente, não tive como recusar o café, aliás, ela nem deu tempo para isso.
Como toda pessoa normal em casa alheia (se é que, com todo o respeito, se poderia chamar aquilo de casa), aproveitei para dar uma olhada geral, tomando conhecimento do ambiente. Aquilo ali exalava um fedor insuportável. Pela porta do quarto contíguo denotava-se, sob uma rústica cama, que tinha como colchão apenas uma velha esteira, denotava-se, como eu ia dizendo, fezes nadando num descascado penico transbordante de urina.
Fumaça, alho, café, urina, fezes... Esta repugnante mistura de odores mesclava o ar fétido que, infelizmente, tive que respirar naquela lúgubre choupana. A sujeira imperava em cada canto, inclusive no poleiro de um periquito que perturbava-me com o seu interminável currupaco.
Na parede um rosário circundava um quadro de Santa Luzia; ao lado um papelão de uma caixa de biscoitos segurava, coladas com arroz, fotografias amarelecidas pelo tempo. Tudo ali era tão tétrico, além daquele mau cheiro insuportável que impregnava aquele local, síntese da pobreza aliada à imundície.
Não demorou e ela voltou, surprendendo-me perdido nas minhas divagações. Portava numa das mãos um prato de ágate, que mais parecia alvo de campo de tiro de tão baleado, carregando uma caneca de alumínio toda amassda e embaçada e, na outra mão, uma lata que um dia fora de marmelada Colombo... Que droga seria aquela?... Nunca cheguei a saber, apesar de ter comido.
Peguei o café e não pude deixar de notar quão suja estava a caneca: tinha raspas de mingau não-sei-de-quê grudado no seu interior. Os bolinhos tinham gosto de tudo: eram doces e salgados, pareciam ter pimenta, alho, canela, hortelã, tudo demais, além de banha de porco rançosa.
Agüentei firme e, mesmo com o estômago se revoltando, consegui comer o primeiro. O café tinha um gosto intragável de cebola; talvez fosse da caneca mal lavada... Como tomar aquela porcaria? Mas, o que fazer? Não tive outra saída... Seria uma grande indelicadeza desprezar tamanha hospitalidade...
Tentei imaginar um jeito de afastá-la para atirar os cinco restantes ao cachorro, se é que conseguisse comê-los. Mas a velha não arredava pé, falando sem parar e nenhuma idéia razoável me ocorria... Sempre insistindo para que eu comesse todos, "afinal ficaram tão deliciosos". Se eu quisesse mais era só pedir... "Que eu pego lá dentro." Recenseador do IBGE! Em quê que eu fui me meter!
Certamente passou alguém na rua: ouvimos o pulguento latir. A coroa foi até a janela verificar o que estava ocorrendo. Aproveitei para me desfazer de alguns bolinhos. Lepidamente me levantei e consegui, com certeira pontaria, atirar dois no seu devido lugar: no urinol. Mas ainda restavam três.
Criei coragem e, para não desfeitear a idosa acabei comendo mais um, enquanto fingidamente elogiava os seus supostos dotes culinários. Ela se distraiu apanhando um retrato de um bebê qualquer para me mostrar e eu pude assim me livrar dos dois restantes, "guardando-os" no bolso da calça, mesmo sabendo que ficaria todo besuntado. A longa camisa por fora da calça encobriria a nódoa que na certa se formaria.
Eram tantas perguntas, tantos quadros a preencher. Algumas coisas ela nem respondeu, não havia meios de fazê-la entender. O documento que possuíra em toda a vida era uma certidão de casamento que o filho havia levado para o serviço, não sabia para quê. Vinha de uma família de cinco irmãos; quase dois anos mais nova que o mais velho e um ano e meio mais velha que o outro que nasceu depois. Informação completamente inútil, já que ela não sabia a idade de ninguém, nem dela mesma... Sabia apenas o dia e o mês de aniversário: dezoito de janeiro. Esquece.
Eu já estava de saída quando um lindo carrão importado, desses que só em falar parece que a gente já está todo endividado e com a língua avariada pela pronúncia, pois é, uma dessas máquinas modernas parou em frente ao portão... Sem essa de cachorro sorrindo, o que ele fêz foi recolher-se à sua insignificância... Nem um abano de rabo, uma festinha... Quem seriam aquelas gentes? O que viriam fazer ali? Nunca a minha curiosidade foi tão aguçada!
Pessoas muito bem vestidas, ostentando jóias, máquinas digitais, mp3 e outros apetrechos igualmente modernos, adentraram naquele terreiro. Um casal normal, isto é, macho e fêmea, quase na meia-idade, e seus três filhos adolescentes: uma moça, que parecia ser a mais velha, e dois rapazes. Falavam simultâneamente. "Mamãe" e "vovó" se confundiam nos meus ouvidos... "Mamãe?" "Vovó?" Quem seriam aqueles seres estranhos àquela bucólica choça? Decidi ficar mais um pouco para ver o que sucederia ali a partir daquele momento.
Fui apresentado e tive a surprendente confirmação de que ele era seu filho e os jovens seus netos. Fiquei estarrecido. Senti verdadeiro asco de conhecer esses miseráveis, desonradores da espécie humana.
Eu não podia ficar indiferente diante do abandono em que se achava aquela outrora mãe de família. Tentei conscientizá-los do que estavam fazendo com ela , argumentei que poderiam pelo menos interná-la num bom asilo, onde estaria melhor colocada, recebendo alguns cuidados... Procuravam aplacar a voz da consciência (se é que a tivessem), atenuando o coletivo complexo de culpa, justificando que ali era o seu "habitat" e que se a tirassem dali acabaria por morrer assim como morre um peixe fora d'água. Afirmaram que ela não conseguiria se adaptar...
Traziam-lhe biscoitos, doces... assim como quem visita a sua fera predileta num jardim zoológico... Mas o que ela precisava mesmo era de amor, de cuidados.
Certamente há muito não enxergava bem, tinha pouco tato e estava praticamente sem paladar. As sua forças estavam se exaurindo. Acabaria morrendo sozinha, relegada ao abandono.
Era mãe e avó, mas não tinha filho nem netos; apenas visitantes esporádicos que curtiam aquele passeio para tomar banho numa cachoeira ali perto e devorar sofregamente os frutos de algumas árvores que ainda sobreviviam naquele quintal tomado pelo mato.
Depois de me despedir daquela gente, afastei-me com o coração pesaroso, com os olhos marejados de lágrimas. Visitaria a próxima casa. Mas ainda voltarei. Tenho de fazer alguma coisa por esta cidadã brasileira!

Saudades Do Trem


Saudades do Trem


Deixa-me triste:
Trem não existe
Lá no interior,
Trem que tem valor.
Chores tu também:
Mataram o trem!
Findou a lida,
Morreu a vida...
Oh! Que saudade!
E de verdade,
Saudades do trem,
Do trem que não vem,
Trem do interior,
Que tem seu valor.
Janela de trem -
Saudades se tem...
Abrir janela,
Ver vida nela...
Tantas viagens,
Quantas paisagens!
"-Felicidade,
Vou pra cidade..."
"-Fui pro interior
Pra ver o meu amor..."
Ah! Os parentes
E outras gentes...
Quanta saudade
Daquela idade!...
Mãos abanando,
Olhos chorando...
Quanto carinho
Pelo caminho,
Nos acenos de mão...
Sofre coração!
Ah! Quanta vida
E bem vivida
Havia no trem,
No trem que não vem...
Quem só, chorando,
Sonha esperando...
Gente vem vindo,
Quase sorrindo...
No trem chegando
Aqui apitando;
Gente partindo
No que tá saindo...
Peito apertando,
Ah! Sufocando...
Saudades tenho
Do trem que venho,
Que não volto mais,
Trem que triste vais...
Que parto também
Atrás deste trem
Que não volta mais
Que não volta atrás.
Trem que acabou,
E tudo mudou...
Findou a lida,
Morreu a vida,
Vida do meu trem
Que não vem, não vem.

Elogio da Dialéctica



A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nòs
De quem depende que ela acabe? Também de nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã

Continuando a Criação...


Continuando a Criação...

(autor: paulinfantem)

O Criador criou os céus, a terra, os mares e tudo o que neles há, inclusive os seres viventes, dentre eles, o homem.
Mas, Deus não deu ao homem tudo de bandeja, mastigado, como costumam dizer. Ele criou animais para fazerem parte de uma cadeia alimentar, criou vegetais comestíveis e capazes de curar doenças; mas o homem teve de descobrir quais eram capazes de servir apenas como alimentos, para ambas finalidades ou exclusivamente para remédios. Deus não criou móveis nem utensílios domésticos. Criou a eletricidade e a energia nuclear, mas o homem precisou descobrir os meios de utilizá-las... Não criou fábricas, computadores, nem robôs... Nem carros, navios, aviões, foguetes, satélites... Ele não criou celular, rádio, televisor, máquinas em geral, etc, enfim, nada disso de produtos que o nosso mundo contemporâneo conhece.
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e a terra com todas as suas riquezas minerais e vegetais. E deu ao homem sabedoria e criatividade para prosseguir na obra da Criação, desenvolvendo o mundo até ao estágio atual. Afinal, foi Ele quem disse: "Ajuda-te eu te ajudarei".

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Metamorfose Espiritual


Metamorfose Espiritual

Eu tenho um primo, Wilson, que mora numa área de risco, uma comunidade carente (se quiser ir no popular: favela mesmo,sangue bom.) que fica lá pras bandas de Nova Chicago, logo depois da Vila Coité.
Num dia qualquer desses que não importa qual, ele seguia tranqüilo por uma rua escura em busca de uma farmácia pra comprar algum remédio para a senhora sua mãe; a rua que deserta lhe pertencia passou a ser dividida com um estranho caminhando em sua direção.
Era uma noite escura e a rua estava mal iluninada, porisso não lhe foi possível ver no desconhecido o seu terrível inimigo Hércules Tiririca (bastante conhecido e famoso nas altas rodas da malandragem por suas peripécias na arte da capoeira e no manejo de uma navalha, com a qual já inaugurou muitas "avenidas"), um afro-brasileiro grandão, conhecido popularmente como "armário", daqueles que antigamente a gente podia dizer "negão" (mas hoje isto já não é politicamente correto...).
Foi graças ao farol de um carro solitário dando bem em cima dele que Wilson o reconheceu. Uma friagem enorme percorreu todo o seu corpo, estancou espavorido. Tremeu mesmo de medo e procurou se ocultar atrás de um caminhão de transporte. Também não era para menos, Hércules Tiririca, terror do Morro do Esqueleto, com mais de vinte entradas na polícia por assaltos a mão armada, arrombamentos e até coisas piores; e, além disso, tinham uma rixa antiga por causa de uma mulher...
Wilson teve uma idéia, meio besta, sim, mas teve: rapidamente tirou o calçado e quase toda a roupa; quase por que ficou de meias e cueca. Talvez estando assim, tal qual um assaltado, Hércules Tiririca tivesse compaixão e deixasse de atacá-lo... Mas enganou-se!
Hércules Tiririca já o tinha visto desde quando surgira na esquina. Não vinha com idéias malignas. Antes, muito pelo contrário, trazia boas idéias, idéias de perdão, de reconciliação. Idéias que Cristo colocara no seu coração quando se convertera ao cristianismo. Quando passou por uma autêntica metamorfose espiritual. Ao aceitar o Senhor Jesus Cristo como o seu único e suficiente Salvador, Hércules despertou para uma nova vida; uma vida de paz, de alegria, de comunhão com Deus e com o próximo. (Cristo continua despertando para uma nova vida a todos aqueles que nele confiam.)
Por isso ficara muito preocupado quando Wilson desaparecera na distância que os separava. Preocupado por que imaginara a aflição dele conhecedor de sua vida passada no crime, Hércules Tiririca acabou tomado por uma crise de choro em plena rua.
E foi assim que ambos se encontraram: um tremendo de medo, outro de compaixão. Acabaram se abraçando num abraço que falava mais que mil palavras. "O amor cobre uma multidão de pecados", diz a Bíblia.
Dias após meu primo apareceu segurando o braço de um amigo... Qual não foi a minha surpresa ao constatar que aquele seu novo amigo (e irmão em Cristo) era Joaquim Felisberto Nepomuceno, o ex-bandido (e tantas outras coisas) Hércules Tiririca.
Felizmente a lei do amor falou mais alto e tudo acabou bem, por que, finalmente, Joaquim havia compreendido que "só o amor constrói", conforme disse Marques Rabelo.
Somente Jesus Cristo entrando no coração do pecador pode realizar esta metamorfose espiritual que deixa a todos maravilhado. Hoje pode acontecer coisas tremendamente maravilhosas na sua vida! Se já está com Ele, não o deixe jamais! Se ainda não, convide-o urgentemente a entrar na sua vida por que esta sua vida sem Jesus não é nada! Seja feliz, por que ser feliz é o maior compromisso que você tem consigo mesmo!

Passado, Presente e Futuro


Passado, Presente e Futuro


(autor:  paulinfantem)

O que você lerá a seguir faz parte do seu "futuro imediato":
Se estamos sempre avançando, segundo a segundo, para o "futuro imediato", deixando para trás o "passado recente", conclui-se que o "presente" é um hiato de tempo tão insignificante que torna-se impossível cronometrá-lo; se estamos sempre saindo do "passado recente" e imediatamente adentrando no "futuro imediato", que também já está sendo ultrapassado, tornando-se "passado recente", conclui-se que tanto o "presente" como o "futuro" são simplesmente utópicos. Toda a nossa realidade já está no passado, da qual retemos apenas uma parte ínfima, nossas memórias de uma história particular, lembranças imaginárias de fatos reais, porém momentâneos. Afinal, a vida é feita de momentos que se sucedem sucessivamente na sucessão sucessiva dos segundos. (Tudo o que você acabou de ler já faz parte de seu "passado recente") 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Hipocondria


Hipocondria

(autor: paulinfantem)

-Prezado doutor,
Me faz um favor:
Me peça um exame,
Mas não me engane,
Um check-up geral,
Que estou muito mal.
Para que o senhor
Possa ter idéia:
Tenho cefaléia,
Amidalite
E faringite...
Quase todo dia
Tenho muita azia;
Será gastrite?
Estomatite?
E cada afta...
Quase me mata;
Tenho rinite
E sinusite;
Cólicas menstruais...
Eu sofro demais!...
Crônica artrite,
Uma bursite...
Dou-lhe mais pistas:
Sofro das vistas...
Hipermetropia?
Ou será miopia?
Sofro do pulmão,
Rins e coração;
É cada baque!...
Sofro da raque;
Senhor médico,
Ortopédico
Era o meu colchão,
Mas durmo no chão,
Que é muito melhor
P'ra quem tá na pior.
Eis minha meta:
Eu farei dieta
Para emagrecer;
Deixei de beber
E larguei o fumo;
Estou no rumo...
- Oh! Não reclames,
Pedirei exames.
....................................
Depois da doente
Completamente
Examinada,
Diagnosticada:
- Mas, Esmerada,
Tu não tens nada!
- É isto que eu temia:
Ter hipocondria.